Um dia (nada) qualquer.


Saiu de casa decidida a ter um dia bom. Sentia o coração em paz, alegre pelo sol que brilhava do lado de fora do apartamento e pela brisa fresca que a acompanhava em seus passos. Caminhava brincando de descortinar o céu azul  escondido entre as folhas verde-escuras das árvores. Aqueles, pensava, eram presságios de um dia que seria bom.

A trilha sonora sussurrada no ouvido, músicas escolhidas a dedo. Um dia como aquele merecia melodia e letras especiais.

Deu bom dia à faxineira do prédio vizinho, à moça da locadora da rua de baixo, sorriu para os taxistas do ponto mais à frente. Pensou com carinho em toda aquela gente que está sempre ali, compondo o cenário percorrido dia a dia, e em como tornam o cotidiano ainda mais familiar. Será que se dão conta disso? De como a simples presença de cada um quebra a indiferença das ruas e avenidas abarrotadas de gente?

Na bolsa, um livro para fazer companhia até o trabalho. Mas que foi deixado de lado. As imagens corridas, vistas pela janela, roubaram toda a atenção.  Uma avenida repleta de prédios; a rua mais estreita, tomada por bares e restaurantes sofisticados; a bagunça e o barulho do centro da cidade, com o comércio colorido e gente trançando e desafiando os carros, motos e bicicletas. A decadência elegante do viaduto, o topo das árvores do parque que ficou lá embaixo e, de repente, a estação que distoa do que há ao redor, o belo que resiste em meio à região tão maltratada.

Seis horas se passam dentro do prédio onde a iluminação é artificial, o ar é frio e a observação das horas fica comprometida pelo isolamento. O tempo passa a ser contado ao contrário. E as histórias que chegam trazem palavras e imagens de sofrimento, injustiça, medo. Mas há também  a expectativa de um desfecho feliz, de haver uma forma de ajudar, de mostrar algo novo, que possa melhorar o dia de alguém.

A volta pra casa nem sempre é leve. O céu já escureceu e a brincadeira, agora, é observar as luzes que nos mantêm acesos. Como é lindo o contraste do azul escuro com o sombreado dos prédios! Uma flor vermelha se exibe no meio do caminho. Passou despercebida de dia. Será que foi a lua cheia que lhe abriu os olhos? Naquela noite, cada passo foi dado sob a proteção dela. O contorno perfeito, como que desenhado a mão. Um brilho imponente demais pra não ser reverenciado. Do nada, um sorrido brotou no rosto. Que o amanhã seja ainda melhor!











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