E não se esqueça de lavar as mãos.

Eu não sei você, mas me lembro claramente de professoras, pai, mãe, tios, avós, enfim, de um batalhão de adultos repetindo, de forma incansável, que era preciso lavar as mãos após usar o banheiro. Deve ser por isso que me assusto toda vez que vejo alguém deixar o banheiro sem lavar as mãos-  com água e sabonete, por favor.  E sempre me pergunto: por quê? Se ultrapassarmos as respostas mais óbvias, podemos chegar a um caminho bem interessante - e complexo. Quer ver só?

Quantos hábitos simples e saudáveis abandonamos ou deixamos de aprender ao longo da vida? Por que eles não se tornaram ou permaneceram como prioridade na nossa rotina?  Dia desses, enquanto passava hidratante no corpo, levei um susto ao perceber a falta de gentileza dos meus gestos automáticos. É sério! Eu não estava com pressa, não estava atrasada, seguia um ritual e fazia aquilo com uma falta de cuidado assustadora. Quando a ficha caiu, fiquei pensando no porquê de tratar o meu corpo com tanto desamor. Parece exagero? Não sei...

Estou há meses viajando pela Ásia e por aqui os abraços não são tão comuns. As demonstrações físicas de afeto, às quais nós, brasileiros, estamos tão habituados, respondem a códigos diferentes e, com isso, não vemos pessoas se tocando com tanta frequência. Em contrapartida, poucas vezes senti tanta amorosidade nas minhas trocas sociais. Sou constantemente acarinhada por olhares doces, sorrisos sinceros, tons de voz acolhedores e o famoso gesto do "Namastê". E toda essa mudança me fez perceber o quanto o toque e o corpo - o nosso e o do outro - são sagrados. Que no ato de tocar e ser tocado deve - ou deveria- haver respeito e reverência, delicadeza e amorosidade.

Voltando à minha epifania, percebi, no fim das contas, como estava distante de mim enquanto fazia algo que, em tese, representava cuidado. E como é fácil viver sem habitar o próprio corpo. A gente se olha no espelho, vê vários trechos de nós mesmo e quase nunca tem tempo de observar os olhos e enxergar o que eles querem nos contar a nosso respeito. A gente se alimenta com pressa e às vezes engolindo sapos, raiva, preocupações. Reduz as horas de sono porque precisa cumprir as exigências de alguém que não se planejou e está cheio de urgências. E no fim de um dia cheio de concessões prejudiciais à nossa saúde física e emocional, nos sentimos exaustos, mas com uma sutil satisfação  de que somos ocupados, muito ocupados, e que isso é um bom sinal e algo capaz de justificar nosso afastamento de nós mesmo.

Estar presente, num primeiro momento, assusta e pode doer. Porque estar presente não significa apenas passar o creminho com delicadeza, mastigar devagarinho e se achar linda ao olhar pro espelho. Significa enxergar sua luz, mas também as crenças e sentimentos que aprisionam.  Uma terapeuta que conheci em um retiro no sul da Bahia disse algo que nunca esqueci: que a porta por onde entra o amor é a mesma pela qual sai o sofrimento. Significa que amar dói? Não, e essa é uma crença bem antiga e pesada. O entendimento é o de que só há amor verdadeiro quando há espaço pra ele e, portanto, é preciso deixar o sofrimento sair.  A gente fala tanto em desapego, né?  É mesmo um golpe na vaidade descobrir que se é apegado a algum tipo de sofrimento, mas existe outra maneira de finalmente se despedir dele?  Pra se libertar é preciso ter (muita) humildade e entender que a cura é sempre uma opção. E ainda que essa não seja sua escolha por agora, pode ser bom mantê-la sempre em mente porque as fichas caem quando a gente menos espera!


















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