Saí do Brasil com duas malas pequenas, de bordo, e desde então, tudo o que tenho e preciso está dentro delas. Fiz um pacto comigo de que só entra algo novo se outra coisa, antiga, sair. Isso inclui roupas, sapato, xampú, creme e meus equipamentos de trabalho.
Resumir a vida em duas malas foi um dos desafios mais gratificantes que aceitei. E toda vez que preciso carrega-las, penso que devia diminuir ainda mais a minha bagagem. Passar meses pulando de hotel em hotel, mudando de cidades e países também tem me lapidado bastante na arte necessária que é se adaptar e viver de forma desprendida. Quando tudo se transforma, o tempo todo, de maneira tão prática e clara, a gente entende e sente que quanto menor a ilusão de controle, menor o sofrimento e as quedas.
Um ditado indiano brinca que enquanto o homem faz planos, Deus ri deles. Eu fiz planos. Muitos! E Deus deu boas gargalhadas. Já me senti, algumas vezes, como uma folha solta em um vendaval, sem ter onde me apoiar ou um destino a seguir. As certezas duravam pouco tempo e logo vinha a quebra de todas elas. Até que, num desses momentos de tormenta, percebi e aceitei a minha vulnerabilidade, vi que a melhor opção era confiar no fluxo da vida. Estar em contato com a natureza nos faz entender e sentir melhor isso, porque tudo acontece num ritmo próprio, constante e perfeito - mesmo quando há reviravoltas.
Dia desses me peguei brincando, por mais de hora, num balanço. Sentindo a brisa, ouvindo os pássaros e recebendo o calor do sol. A folha perdida no vendaval tinha se transformado numa pena que flutuava no vento. Não é à toa que, nos últimos meses, tinha voltado a brincar. Primeiro, pedalando em meio à uma plantação de arroz, me perdendo e descobrindo trilhas, moradas, famílias e aromas. Depois, aceitando o convite de cada balanço que encontro em parques e jardins. Por fim, no contato com as crianças que chegam cada vez com mais frequência perto de mim. Não nos entendemos por fala e imagino que isso me obrigue a ativar partes do cérebro que ficam adormecidas quando dominamos a linguagem. Eu e elas fazemos mímicas, emitimos sons e nos divertimos, com a leveza de quem se sente em casa.
Aliás, é sobre confiança que vim falar aqui. Confiança no bem que habita o ser humano, no tempo das transformações e no amor e na paz que existem dentro de cada um de nós, mas que ficam abafados por tantos enganos e feridas que fingimos não ter. Cada passo que dou me aproxima de um lugar mais leve. Sigo me despedindo do que andou pesando em mim. E, sim, ainda faço planos. Mas hoje consigo sorrir para a possibilidade de Deus achar graça deles.
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muito mais com muito menos...
ResponderExcluirAssim seja! 🙏🏻
ExcluirProfundo...
ResponderExcluirQue lindas asas vc tem.
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