Aqueles que me marcaram




1.
Nunca me esqueci do olhar daquele garoto. Ele não aparentava ter mais de dez anos. Passou por mim e, de súbito, tentou arrancar o celular da minha mão.

Criamos um embate que não deve ter durado nem dez segundos. Os  dois agarrados ao aparelho. Me mantive firme até encontrar seus olhos. O que vi ali me chocou de tal maneira que acabei soltando o celular e ele saiu, correndo.

Lembro de ter pensado em como aquela raiva toda, dirigida a mim, era incompreensível, assustadora. Hoje desconfio que aquela talvez tenha sido a primeira ves em que me percebi representante de um mundo que oprime, exclui. Eu era o alvo mais próximo, o que estava logo acima e, portanto, possível de ser atingido.

Naquele dia, dois mundos se encontraram, se colidiram, geraram faísca e, depois, seguiram seu curso, mais distantes do que nunca.

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