"Primavera, verão, outono, inverno... primavera..."


Embora houvesse cores na casa, sentiu falta dos tons vivos das plantas. Dizem que elas tornam o lar mais aconchegante. Mas a necessidade de se cercar de flores e folhas ia além. Buscava a beleza, a poesia e a sabedoria da natureza pra conseguir devolver ou incluir tudo isso aos seus dias.

As primeiras a povoar a sala foram as conhecidas como suculentas. Plantas pequenas, sem flores, de aparência forte, mas delicada. Resistentes, não exigem tanto cuidado, apenas o suficiente para se sentirem lembradas. A superfície grossa e inflada protege a quantidade enorme de vida que há dentro delas. São capazes de armazenar água, mantém caules e folhas úmidos, e se nutrem daquela reserva, caso haja escassez em volta.

Mais tarde, sentiu falta da delicadeza das flores. E aí, vieram várias. Muitas, tão breves que apenas passaram por lá. Outras foram mais resistentes e compreensívas com a falta de destreza da dona. Havia , ali, um processo de aprender a cuidar; de reconhecer as respostas, os sinais de que, enfim, criava-se familiaridade com o ambiente.

A virada se deu quando as folhas secaram e as flores, caíram. Era hora de deixar morrer o que, antes, chamou tanta atenção. Sobraram apenas as promessas de que o belo retornaria e voltaria a ocupar aquele espaço. Seria também uma dupla vitória. Afinal, era a primeira vez que havia se proposto a cuidar de vidas tão frágeis. Mas foi justamente a força por trás dessa fragilidade que a fez entender o sentido dos ciclos. Muitas vezes, é necessário voltar ao mais simples pra enxergar e entender o óbvio.

Os primeiros brotinhos amanheceram, e o fizeram com tamanha discrição que apenas um observador atento conseguiria dar-lhes as boas-vindas. Dia após dia, as surpresas do renascimento revelevam  a suavidade das mudanças naqueles que aprendem a  se curvar à sabedoria da vida.

Estavam todas lá, de volta. Mas nenhuma retornou da mesma maneira. Houve adaptações aos cortes anteriores, aos ventos que se opuseram aos novos seres, ao terreno que não era mais virgem. Eram igualmente belas, mas carregavam um certo ar de quem já não caminha às cegas. De quem se abre para  dançar a vida e aprimora os passos, ainda que, em breve, fosse hora de morrer novamente.

Comentários