Embora
houvesse cores na casa, sentiu falta dos tons vivos das plantas. Dizem que elas
tornam o lar mais aconchegante. Mas a necessidade de se cercar de flores e
folhas ia além. Buscava a beleza, a poesia e a sabedoria da natureza pra
conseguir devolver ou incluir tudo isso aos seus dias.
As primeiras
a povoar a sala foram as conhecidas como suculentas. Plantas pequenas, sem
flores, de aparência forte, mas delicada. Resistentes, não exigem tanto
cuidado, apenas o suficiente para se sentirem lembradas. A superfície grossa e
inflada protege a quantidade enorme de vida que há dentro delas. São capazes de
armazenar água, mantém caules e folhas úmidos, e se nutrem daquela reserva, caso
haja escassez em volta.
Mais tarde,
sentiu falta da delicadeza das flores. E aí, vieram várias. Muitas, tão breves
que apenas passaram por lá. Outras foram mais resistentes e compreensívas com a
falta de destreza da dona. Havia , ali, um processo de aprender a cuidar; de
reconhecer as respostas, os sinais de que, enfim, criava-se familiaridade com o
ambiente.
A virada se
deu quando as folhas secaram e as flores, caíram. Era hora de deixar morrer o
que, antes, chamou tanta atenção. Sobraram apenas as promessas de que o belo
retornaria e voltaria a ocupar aquele espaço. Seria também uma dupla vitória.
Afinal, era a primeira vez que havia se proposto a cuidar de vidas tão frágeis.
Mas foi justamente a força por trás dessa fragilidade que a fez entender o
sentido dos ciclos. Muitas vezes, é necessário voltar ao mais simples pra enxergar
e entender o óbvio.
Os primeiros
brotinhos amanheceram, e o fizeram com tamanha discrição que apenas um
observador atento conseguiria dar-lhes as boas-vindas. Dia após dia, as
surpresas do renascimento revelevam a
suavidade das mudanças naqueles que aprendem a
se curvar à sabedoria da vida.
Estavam todas
lá, de volta. Mas nenhuma retornou da mesma maneira. Houve adaptações aos
cortes anteriores, aos ventos que se opuseram aos novos seres, ao terreno que
não era mais virgem. Eram igualmente belas, mas carregavam um certo ar de quem
já não caminha às cegas. De quem se abre para
dançar a vida e aprimora os passos, ainda que, em breve, fosse hora de
morrer novamente.
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