Pétalas de
flores rosas caídas na calçada, folhas já alaranjadas balançando ao ritmo do
vento. A brisa fresca pede um casaco leve à tira-colo.
Ela sai e
sente o outono se descortinar. E se
alegra ao perceber os sinais que a natureza faz questão de exibir.
Estações de
transição sempre a tocaram de forma especial. São de uma força suave, quase um
reverenciamento ao que vem à frente. E se na primavera parece expandir, é no
outono que ela se encontra.
Sente que
compartilha da necessidade de se transmutar, de se recolher, de perder camadas.
Busca a poesia dos processos de transformação.
E quer coisa
mais linda do que percorrer tapetes formados por árvores que acabaram de se
depenar? Ver céus mascarados por manchas verdes, amarelas e laranjas? Pra ela,
as senhoras mais lindas são aquelas que residem solitárias, no alto do corpo
seco, marrom-escuro, das árvores. Que
generosidade é essa que permite à perda se apresentar com tanta elegância?
Outono é
sacudir a poeira, tirar do lugar, fazer fluir. Também saem da inércia roupas e
acessórios que nos imprimem novos ares. Tons mais escuros, sobriedade, ainda que
tropical. Eis que os olhos focam em um par de sapatos amarelos. Acompanha o
movimento deles e se lembra, mais uma vez, do desejo antigo de ter calçados
daquela cor. Gosta do contraste com o cinza do asfalto. Outono é isso: amolecer
o terreno que, em breve, vai receber o inverno.
Na busca pelo
conforto, retorna ao calor das xícaras de chá, dos bolos recém-assados, do pão
de queijo saído do forno… as receitas da infância. Ouve a avó entoando cantigas:“Se essa rua, se
essa rua fosse minha…”. O chinelo de pano e a meia grossa pra evitar friagem, o
roupão por cima do pijama … o ritual de colocar o cobertor ao sol pra tirar o
cheiro de guardado.
Outono, pra
ela, é “o “boa noite” que antecede o sono reparador. O aconhego de um banho quente, uma massagem
no pé, um cafuné seguido de um beijo no rosto.
É sair de fininho, escapulir, se despedir sem ter que dizer tchau.
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