Sobre faxinas, memórias, o que fica e o que vai.


Um dos pequenos prazeres que tenho é rasgar papéis. Contas pagas, textos já lidos, anotações que não precisam mais de atenção. Se não há mais sentido em guardar, eu rasgo. Adoro sentir o papel se partindo, o ruído discreto que acompanha o movimento simples de puxar cada pedaço para um lado e ver aquilo se multiplicar.

Gosto, em especial, de rasgar fotos. Aquelas sem foco, repetidas, as que fizeram sentido e já o perderam. Olho cada detalhe delas, procuro recordar a emoção e os sentimentos que cada momento me proporcionou e… rasgo. E não faço isso apenas pra me libertar do que me machuca. Faço também pra me despedir do que foi bom mas ficou lá atrás.

É claro que guardo algumas fotos. Tenho muitas, aliás. Fico feliz e emocionada ao rever cada uma, me delicio com os sorrisos, os lugares, consigo até lembrar de músicas e diálogos!  Só que alguns momentos, por melhores que tenham sido, não me tocam mais. E se isso acontece, é hora (pra mim) de abrir espaço.

A questão não é esquecer ou apagar memórias. É deixá-las no lugar que conseguiram ocupar – são lembranças e não precisam mais de espaços físicos. Pessoas que passaram, trocaram e seguiram naturalmente seu curso. Fases vividas até que tudo se esgotasse e fosse hora de mudar de rumo. Amizades que fizeram sentido mas se esvaíram com a mesma doçura de quando começaram.

Gosto da sensação de poder acolher o novo. De me esvaziar um pouco – e, consequentemente, meus espaços- para ser preenchida pelo que nem conheço ainda. É como se eu dissesse: Pode vir!

Talvez o que mais defina o que sinto seja o desejo de renovação. De evitar o acúmulo que, a menos a mim, traz a impressão de que há muito a ser vivido (e visto, ouvido, experimentado), mas que se perde no amontoado construído por distração. Como se só fosse possível observar, usufruir e sentir o que se é capaz de acolher. E pra dar as boas-vindas, nada como ter os braços bem abertos.









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