O aroma
invadiu, lentamente, os cômodos da casa. Saiu da cozinha, passou pela sala e
chegou ao quarto. Foi o sinal de que já era hora de desligar o forno. Depois de
tantas tentativas, finalmente conseguiu que ele crescesse, dourasse e ficasse
fofinho por dentro. Bolo de cenoura sempre foi o seu preferido, tinha sabor e cheiro
de infância.
A receita foi
tirada do caderno da mãe, de onde muitos outros pratos ou inspirações também
saíram. E enquanto acertava o ponto da cobertura de chocolate, lembrou de como
aquele ato simples povoou dias doces do passado.
Era grande a
bancada da cozinha, mas ela se estreitava nos dias de fazer biscoito, bolos de
aniversário e outros quitutes. Mal sobrava espaço pra mãe, que trabalhava cercada
pelas duas crianças. Ficavam ambas em pé, em cima dos bancos de madeira,
observando e disputando pedacinhos daquelas delicias.
Aos olhos
dela, cozinhar era como desvendar alquimias. Ainda que as misturas fossem
simples, havia algo de mágico em criar a partir de fragmentos. Ver os ingredientes reagirem à mistura,
sentir os cheiros e cores se fundirem, tudo isso atiçava sua curiosidade.
Cada mão
trazia um segredo no fazer. Eis a graça do que é produzido de forma
artesanal. Há sempre um jeito de deixar
a identidade naquilo que tantas outras mãos podem reproduzir.
Vez ou outra,
no meio de uma receita, ela se pega repetindo essas maneiras. Detalhes que viu, ouviu e arquivou em suas
anotações mentais.
Comeu o
primeiro pedaço sozinha e separou algumas fatias para distribuir. Era parte da tradição compartilhar. Na falta
da família, seriam os amigos aqueles a receber e a trocar. A graça estava, sobretudo,
em alimentar laços e novos ciclos.
Quanta saudade... Alquimia mágica mas não menos mágicos os olhinhos atentos, curiosos, encantados.
ResponderExcluirToda mãe, com certeza, tem uma história para contar sobre esses momentos tão especiais.
Doces lembranças...