Recalque foi a palavra da vez em 2013. Ostentação, a de 2014. Digo isso bom base do que ouvi e li, principalmente nas redes sociais. 2015, a meu ver, ainda não lançou moda – não no quesito vocabulário.
Tão viva quanto a língua, é essa nossa
mania de comer palavras, preposições, querer simplificar e, infelizmente,
avacalhar um pouco o português. A
propósito, carrego um carinho especial por avacalhar, arredar e alguns outros
verbos típicos do linguajar do interior de Minas.
Desde a reforma ortográfica, quase nunca
mais vi um “têm”. Seja no singular ou no plural, ele aparece carequinha, agora.
Foi só os “veem”, “voos” e o resto da turma perderem o acento que o têm ficou
assim, ou melhor, deixou de ser assim. Eu, particularmente, me entristeço cada
vez que o vejo capenguinha. E sinto o maior saudosismo quando tenho que
escrever os outros, que realmente perderam o acento, sem ele. O circunflexo em
cima do o, do voo, me lembrava uma águia. Achava bonito ver uma palavra tão bem
desenhada em seu significado.
Outro grupo que anda penando com a gente
é o do porquê. Eu, particularmente, gosto de pensar nas diferenças toda vez que
vou usar um deles. E se esse aí de cima estiver errado, por favor, me corrijam.
Foi numa música de Caetano Veloso que
aprendi a conjugar o ver no futuro. É a estranheza mais linda que já ouvi: se eu vir… quando eu vir… Fica assim, um verbo inquieto, como o
interveio. E o caibo. Esse, eu devo ao Nando Reis: “Eu não caibo mais nas roupas
que cabia…”.
Há, ainda, os que saíram de cena. Em tempos de cólera, sou capaz de me apaixonar
por quem fala “cujo”. Sério! Parece até
que virou palavrão, de tão combatido!
Leonardo Sakamoto tem uma frase que
adoro: “Falta amor no mundo, mas falta, também, interpretação de texto.”. Ah,
se falta! Falta tanto que já vi esse “Ah” escrito ao contrario! Mas continuava
como interjeição! Já o outro, o “Há”, virou pau pra toda obra! Aparece pra
falar do passado, pra especificar distância… acha que eu tô inventando? Nã, nã,
ni, nã ,não!
A verdade é que sou dessas que gostam de
ouvir frases bem construídas. Chega a tocar um sininho dentro de mim, de
felicidade, quando isso acontece. Acho que, hoje, o exercício de questionar
como se fala e se escreve é pra quem gosta de nadir contra a corrente. A gente
se adapta às mudanças e procura entender, também, que muitas chegaram pra nós
já como normas. Deve ser o ciclo da
língua… quem veio antes, coleciona regras pra contar histórias. Fazer o quê? E,
pensando bem, esse texto bem que podia ter começado com um “Era uma vez…”, concorda?
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