Seria apenas
mais um almoço, se a moça da mesa ao lado não tivesse prestado tanta atenção em
mim. Depois de perceber, pela terceira ou quarta vez, que ela me olhava, me
lembrei da primeira que encarei, sozinha, um restaurante.
Havia acabado
de me mudar para Belo Horizonte e tenho quase certeza de que foi depois de um
dos primeiros dias de aula. Lembro de entrar, olhar em volta e achar estranho
procurar uma mesa vazia. O incômodo durou o tempo que permaneci ali. Lembro também de ter evitado aquela cena
pelos dias que se seguiram, até que a fome – e o desejo por uma refeição
saudável- falou mais alto.
O engraçado é
perceber que vivemos, sentimos e, somente muitos anos depois, elaboramos ou
conseguimos entender o quê nos moveu ou nos paralisou. Voltando à história do
almoço, talvez tenha sido ali que me dei conta de que não havia outra forma de
me apresentar ao mundo a não ser aquela. Acredito que essa questão seja muito
maior do que o “sozinho nascemos, sozinho iremos morrer”. E há muito não a vejo
como uma condição melancólica, pessimista ou aterrorizante.
Pois hoje,
sentada, mais uma vez sozinha, percebi como é libertador aceitar e entender que
amigos, amores, família, livros, filmes, viagens… tudo isso colore a vida, mas
não nos livra da ausência. E que pena é ver tanta gente fugindo dela!
Recentemente, li uma crônica do Contardo Caligaris que poderia, muito bem, ser
minha – pelas reflexões e pelo incômodo que compartilhávamos. Estar online não
significa estar disponível para o outro, assim como ter um celular em mãos não
significa experimentar tudo aquilo que os outros postam. Estar aqui significa
não estar lá. E por mais óbvio que isso pareça, há muita gente querendo provar
o contrario.
E talvez a
gente precise sentir a dor de não ter com quem falar, de poder apenas ouvir as
conversas ao lado, de olhar pra frente e não ver nenhum rosto familiar. Ficar
cansado de carregar as mesmas interrogações, de voltar pra casa toda sexta à
noite, de desligar a tv e não ter mais nada pra te distrair de si mesmo. Porque
quem empresta cor à nossa vida merece mais do que apenas dividir o fardo. Há de
haver delicadeza- e a gente se esquece fácil disso…
Acabo de
assistir ao “ A teoria de tudo” e deixei a sala de cinema pensando, sobretudo,
em como existiu delicadeza e respeito na relação entre Steven Hawkins e sua
mulher, Jane. Quando ela decide dividir
com ele os desafios da doença, quando ele entende a presença de outro homem na
vida dela e em outros tantos detalhes dos longos anos que passaram juntos. O
que nos leva a compreender que ser um casal é muito maior do que estar junto e
andar de mãos dadas.
Pra terminar
esse emaranhado de pensamentos soltos, cito uma outra frase que li há algum
tempo e que revisitei hoje, por acaso. "A
vida não tem sentido nenhum, mas não é proibido dar-lhe algum”. Cada um
percorre o caminho que conhece e lhe parece mais atrativo. Que então, ao fim,
possamos todos sorrir pra nós mesmos. :-)
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